Cármen Lúcia: ‘As pessoas têm cada vez mais dificuldade de se comunicar’

(Foto :José Cruz/Agência Brasil)

Jurista, magistrada e professora, Cármen Lúcia é ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2006. Ocupou a presidência da Corte entre 2016 e 2018. Foi ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de 2009 a 2013, onde também foi presidente, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo. Ela concedeu entrevista no Senado Federal, transmitida ao vivo pela ‘TV Estadão’, no Facebook do ‘Estadão’. Confira os principais trechos.

A polaridade, hoje tão enfatizada, é um obstáculo para o debate político no campo virtual?

Talvez a novidade seja a virulência e a exposição que se faz, no espaço virtual, sem freios inibitórios que antes se impunham. Em parte, porque no contato humano você se expõe de uma forma talvez mais respeitosa, mais acatada. Ou, pelo menos, mais que nas capitais, multipartidarismo existe e se mostra muito mais nos grandes conglomerados. Quem é do interior sabe que não tem muito partido, tem lado, você é do lado de alguém.

Mas isso não se acirrou?

Se transformou hoje em lados não partidários, mas de uma forma mais personalizada. Segundo o conjunto de valores ou de desvalores até ou de ideologias que não têm ideias no final, mas de compreensões de mundo que passaram a se contraditar de maneira frontal e isso então é que seria a polaridade a que você se refere.

O que seria novidade, então?

É nós termos isso num espaço em que não se respeita este outro porque, citando um pouco (o filósofo italiano) Norberto Bobbio (1909-2004), o jogo democrático se faz como todo jogo, em que as regras se põem e alguém tenta vencer combatendo o outro pela sua força, num jogo de bola de gude ou de futebol, mas querer vencer sabendo que o adversário é essencial para você se aperfeiçoar e o jogo continuar. Porque na democracia se tenta a continuidade das instituições e das práticas políticas para o aperfeiçoamento em benefício de todos. A grande mudança é que esta polaridade parece, muitas vezes, e estou usando o verbo que quero, parece, que não se quer vencer o outro, se quer matar o adversário. O jogo vai acabar se acontecer isso. Esta é uma novidade péssima, que é muito pouco humana, muito pouco democrática. Extinguir o outro, extinguir o diferente, extinguir o plural, extinguir aquilo que lhe é diverso não é manter um jogo democrático. É acabar com o jogo democrático e instalar as ditaduras, por qualquer de suas formas.

Qual é o ponto-chave?

A tecnologia que permite a informação melhorou muito. A comunicação, não. As pessoas se comunicam cada vez menos, têm mais dificuldade de se comunicar.

Terra

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