Angélica: “Nunca quis ser primeira-dama”

Com 32 anos de carreira, Angélica decidiu dar uma pausa no trabalho para mergulhar em si. Depois de quase perder a vida e a família em um pouso de avião forçado, passou a cuidar do trauma e de uma síndrome do pânico que a acompanha há 15 anos com meditação. Aqui, ela fala sobre a eventual candidatura à Presidência da República do marido, o apresentador Luciano Huck e sobre os planos de um novo programa em 2020

Foto: Elisa Mendes.

“Política, educação, professores”. As três palavras escritas em uma lousa de papel indicavam o tema de uma reunião que havia acontecido ali. A parede era do escritório do casal Angélica Luciano Huck, no terreno onde vivem com os filhos Joaquim, Benício e Eva no bairro da Gávea, no Rio, e nos recebeu para esta entrevista.

Há dois anos, a possibilidade de se tornar primeira-dama do Brasil é um tema discutido na casa dos Huck. “Não posso dizer que acho muito legal Luciano sair candidato, não seria verdade, mas tem uma hora que você não está mais no controle. É uma espécie de chamado” diz Angélica, vestida em um macacão de linho marrom e blazer branco.

Na parede, uma foto de Barack Obama emoldurada. Na cabeceira, à espera da vez, a biografia de Michele Obama, presente da assessora Débora Montenegro. “Mas não quero que a entrevista seja só sobre isso”, diz a apresentadora, que prepara um programa sobre comportamento para estrear na TV Globo em 2020. Nem poderia.

A biografia da mulher que faz parte da vida dos brasileiros desde 1987, quando despontou aos 13 anos na TV Manchete, teve sobressaltos para além da política. Em 2015, sobreviveu com a família a um pouso forçado de um avião particular em uma viagem ao Mato Grosso do Sul. Em junho, seu filho Benício, 11 anos, sofreu um acidente no mar. Bateu a cabeça enquanto esquiava e teve traumatismo craniano. Durante a conversa, Angélica falou sobre essas memórias, a maternidade e como a meditação é importante para colocá-la no eixo.

Confira abaixo trechos da entrevista com a apresentadora, na íntegra na edição de outubro de Marie Claire, já nas bancas!

Marie Claire A possibilidade de ser primeira-dama te assusta?
Angélica Sim. Não é um desejo meu. Seria uma honra? Claro. Mas nunca quis isso. No Brasil, em vez de a política ser algo do qual as pessoas se orgulham, dá medo. Mesmo sem ser candidato, Luciano já apanha de todos os lados. Estamos acostumados com fake news, mas de um jeito menos sujo. Por outro lado vejo isso, digamos, como um “chamado”, que ele não buscou. É uma coisa tão especial, que se ele decidisse se candidatar, o apoiaria. Acredito na capacidade de trabalho e no olhar para o outro que ele tem. Mas é uma escolha minha? Acho muito legal? Não posso falar isso porque não seria verdade [risos]. Teríamos mais a perder do que a ganhar. Mas estamos em um momento tão louco na política que não quero, jamais, ser egoísta e leviana de impedir algo nesse sentido. Jamais falaria “não, você não vai”. Jamais.

MC Se por um lado a candidatura é desconfortável, o que está acontecendo na política do Brasil hoje também é?
A Muito. Fomos viajar agora e é desconfortável ver como as pessoas veem o Brasil lá fora, com pena. Estamos vivendo downgrades, andando um pouco para trás e isso é muito assustador.

MC Uma eventual candidatura teria impacto na sua carreira?
A Sim, né? Não ficaria muito bom estar na televisão. O que também pesa, tenho uma carreira feliz. Mas não seria um impedimento.

Angélica (Foto: Elisa Mendes)

MC Seu último programa foi em 2018. A que se deve essa pausa?
A Ao desgaste do programa. Mas, no fim, foi um presente. Comecei a trabalhar aos 4 anos, é a primeira vez que fiquei sem fazer nada. No início deu uma abstinência, mas passou rápido porque ter tempo é luxuoso e saudável. Recentemente Eva falou: “Você me deixava muito sozinha porque trabalhava, né?”. Respondi: “Não deixava sozinha! Nunca viajei com o seu pai sem vocês, por exemplo”. Aí entendi que estava presente na vida dos meus filhos, mas não muito. Estava sempre de passagem. Mas não me culpo não, foi só uma percepção.

MC Tem um novo programa sendo gestado?
A Sim, deve estrear em abril. A princípio será sobre comportamento. Estamos passando por um momento de muitas questões, as pessoas estão buscando respostas filosóficas e práticas. Todas essas novas doenças, os pânicos, as ansiedades, já vivi tudo isso. O programa será mais autoral, baseado nas minhas experiências dos últimos anos.

MC Quais?
A  Há quatro anos medito todos os dias. Comecei por causa da síndrome do pânico, aos 28 anos. Trabalhava muito, tive taquicardia, sensação de morte. Fiz ioga, aprendi a respirar, tomei Dormonid algumas vezes e passou. Depois do acidente de avião, tive flashbacks. Estava em Nova York, na rua, e petrifiquei, não conseguia sair do lugar. Depois teve outros episódio de falta de ar, claustrofobia. O médico falou para tomar Rivotril, mas estava com tanto pânico que tinha medo até do remédio. Comecei a respirar novamente e daí veio a meditação.

MC Como o acidente de avião impactou sua família?
Ficou marcado no nosso DNA. Vivemos uma grande dor juntos e isso nos uniu ainda mais. De algum jeito, olhamos a vida de outra forma. Que missão é essa que temos aqui? O que vou deixar para as pessoas? O lado positivo foi esse. O negativo, óbvio, foi a gente ficar numa sensação de morte, que a gente vive até hoje.

MC O que passou na sua cabeça no momento em que o avião caía?
No voo de ida dessa viagem fiquei apavorada de um jeito que nunca tinha ficado, chorei. Falei que voltaríamos de carro. Só que aí as crianças, o pai, insistiram para voar e topei – e aprendi a respeitar minha intuição. O primeiro a ter noção do que estava acontecendo foi o Joaquim. Ele sentiu que um dos motores havia parado e gritou: “Mãe, não quero morrer, vai cair o avião!”. Perguntei pro Luciano, que falou: “A gente vai cair”. Fiquei preocupada com as crianças, mas não sabia o que fazer. Entramos em pânico, você perde o raciocínio, fica querendo proteger os outros e a si mesmo. Rezei muito alto. Foram três minutos de queda rezando e chorando. Os últimos segundos foram de silêncio absoluto. Na hora em que o avião ia realmente cair, todo mundo parou. O piloto falou para fazermos posição de queda. Foi um silêncio bom. A gente já não estava mais ali. Só ouvímos o avião batendo no chão. Deu até uma paz, uma coisa bem louca – todo mundo sentiu isso. Quando o avião parou, olhamos um para a cara do outro, e começou a gritaria. O comandante estava ensanguentado, a babá tinha se machucado. São traumas para a vida inteira.

MC O país estaria melhor se Luciano tivesse saído candidato em 2018?
A [Solta uma gargalhada] Não posso dizer que ele seria o salvador da pátria, não existe isso. Acredito muito nele e no quão genuína é sua vontade de ajudar, mas não sei se o Brasil estava preparado e se ele estava preparado para o Brasil que pegaria. Essas coisas têm a sua hora.

MC As conversas para 2022 acontecem na sua casa?
A Sim. As coisas estão tão loucas que essa cobrança voltou. Sinceramente, estou muito Zeca Pagodinho, deixando a vida me levar. Pode acontecer muita coisa boa, se Deus quiser, nos próximos anos. A perspectiva é essa? Não, a coisa está cada vez mais complicada.

“Medito todos os dias há quatro anos. Comecei por causa de uma síndrome do pânico”

MC Sobre a questão do legado. O que pretende deixar?
Quero que meus filhos se orgulhem dos pais. Para os outros, tenho vontade de dividir as coisas que são boas para mim. Quero que todo mundo fique bem emocionalmente. Também quero que as pessoas tenham mais compaixão, mais amor porque, olha, está barra [risos].

Beleza: Nat Rosa com produtos Simple Organic/ Styling: Juliano Pessoa e Zuel Ferreira / Produção-executiva: Vandeca Zimmermann

Fonte: Marie Claire

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