Descobri, tardiamente: ser alegre incomoda. Incomoda muito. Existem pessoas que não perdoam a felicidade do outro. Ficam à espera do momento da desforra. Um lapso de tempo em que lançarão o veneno. Pequenas vinganças, mesquinharias, cujo objetivo é diminuir alguém.
Em todo lugar existe gente assim. A maçã podre que põe a perder um cento. Um cento de alunos, numa escola; de bailarinas, em academia de dança; de operários, em qualquer fábrica; de pessoas, em todas as famílias.
As causas podem ser o dia-a-dia difícil, a ausência de projetos, a frustração no trabalho; a falta de amor, de romance, de poesia. O certo é que essa doença chamada inveja está enraizada no ser humano. Um vírus que teve origem nos primórdios dos tempos. Não foi assim com Caim e Abel?
O pior é termos, no decorrer da vida, de suportar a convivência com alguns “cains”. Aqueles que estão sempre contra nós, nos alfinetando como pequenos demônios. Aqueles que estragam nosso dia e azedam nossos sonhos, sutilmente.
O invejoso é aquele ser alerta: não perde a oportunidade de dar o contra em nossas opiniões, em nos contestar e, principalmente, em nos criticar e nos difamar, sem nos dar oportunidade de defesa. De preferência na nossa ausência, claro.
Pensando bem, deveria existir um ramo da medicina para cuidar da inveja. Assim, as pessoas poderiam indicar para alguns amigos: “Olha, procure o Dr. Fulano, ele receitou um santo remédio para um colega de trabalho”.
Dizem que os invejosos servem para nos fazer enxergar nossos valores e méritos, muitas vezes bloqueados.
A bem da verdade, o invejoso nos impulsiona, nos lança desafios, e até podem nos despertar para a vaidade. O que já é alguma coisa.
Mas, se alguns céticos duvidam do poder mortal do “olho gordo”, lembro estar presente na maioria das pessoas o hábito de não revelar qualquer plano, de usar amuletos, seja figa ou patuá, para espantar os maus fluidos. Será exagero dessa gente?
Sem a inveja, talvez, evitaríamos coisas banais. O grande mal, penso, estaria em prejudicar a literatura, pois perderia a fascinação dos enredos. Pode ser que as bolsas de valores despencassem definitivamente. Ou ainda, os jogos de sedução: perderiam totalmente o charme.
Há quem afirme que sem a inveja os cárceres estariam vazios, ninguém diria que estava feia a mulher bonita, e o serviço público seria uma delícia.
Gracia Cantanhede