“Vagabunda”, “bruxa”, “vadia”, “velha horrorosa”. Esses são alguns dos “adjetivos” que estão sendo usados para atacar a Ministra do STF Rosa Weber, de 71 anos. O ataque acontece depois que a Ministra votou contra a prisão em segunda instância, em um julgamento que pode beneficiar o ex-presidente Lula.
Se estamos surpresas com o fato dela estar sob ataque? O pior é que não. Infelizmente, isso é o que acontece quando uma mulher em posição de poder toma uma decisão que desagrada muitos. No caso dos homens, os ataques são MUITO mais leves. É sempre assim. Infelizmente.
Mulheres são alvo de 68% dos ataques de ódio na internet, segundo a ONG Safenet. No caso das que são envolvidas em política, ataques atingem mulheres dentro de todo espectro político. O ódio não tem ideologia e já foi para cima de Manuela D’avila e Joice Hasselmann, passando por Tábata Amaral, só para citar mulheres de posições políticas completamente distintas. Joice, por exemplo, foi chamada de “gorda porca” semana passada em meio a brigas dentro de seu partido, o PSL.
É óbvio que discordar, ficar com raiva e reclamar faz parte de uma democracia e é saudável. Agora, chamar uma profissional de vaca e vadia? Não, isso é bem diferente de discordar, é ataque de ódio mesmo.
Detalhes, os ataques sofridos por Weber são completamente diferentes dos sofridos por seus colegas ministros que também votaram pelo fim da medida. No máximo, eles são chamados de ladrões, vendidos.
Ainda bem, claro. Não acho, sinceramente, que alguém deva ser submetido a esse tratamento, independentemente do gênero, profissão, posição política. Gilmar Mendes, por exemplo, não está sendo chamado de “velho safado”. E repito, ainda bem! Mas a Ministra Carmem Lúcia, que ainda nem votou, já está sendo chamada de bruxa e vadia na internet. E, sim, você pode achar uma mulher incompetente, mas você não tem nada a ver com a aparência dela! Você pode chamar alguém de quem não gosta de… incompetente, por exemplo.
Esse não é o primeiro ataque sofrido por Rosa Weber. Ano passado, um coronel do exército de reserva, Antonio Carlos Alvez Correia, gravou um vídeo ofendendo e ameaçando-a. Ele foi punido pela justiça militar e, no momento, tem que usar uma tornozeleira eletrônica e perdeu o porte de arma.
Como se atrevem?
O ódio às mulheres escorre e derrama quando uma mulher ousa ocupar um cargo de poder. Parece que parte da sociedade (inclusive mulheres) olha para elas e diz: “mas como vocês se atrevem?”, “Quem você é para ocupar esse espaço?”
Alguns meses atrás, uma importante dirigente do partido verde alemão, Renate Künast, sofreu ataques na internet parecidos com esses que estamos tão acostumadas no Brasil. Ela foi chamada de feia, vadia etc. A diferença: virou escândalo nacional! Saiu em todos os jornais e membros de todos os partidos (mesmo seus inimigos políticos) prestaram solidariedade a ela. Renate hoje luta na justiça para evitar esse tipo de ataques contra mulheres.
No caso do Brasil, os ataques são tão constantes que quase os normalizamos. “Ah, faz parte ser chamada de vagabunda.” Não, não faz parte. E não, não é normal. É ataque de ódio às mulheres mesmo. E nenhuma de nós, de nenhuma profissão ou posição política merece isso.