Abraji: Rotina de ameaças e linchamento às mulheres jornalistas é diária

Chorume, prostituta profissional, porca mentirosa, velhota ordinária, filha da puta maldita, cadela comunista, vaca, monstra, cheiradora de pó, égua, piranha rampeira, putinha de esquerda, vadia, bruxa, macaca, projeto escuro de blogueira, tosca, plastificada, pelancuda. É assim que milícias virtuais se referem às mulheres jornalistas no exercício da profissão. Na última semana, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) vem registrando a brutalidade dos ataques a colunistas, apresentadoras e repórteres. O linchamento virtual coincide com o acirramento da crise política à luz dos trabalhos da CPI da Covid.

Apenas em 2021, o monitoramento de violações à liberdade de imprensa feito pela Abraji registrou ao menos 15 casos de mulheres jornalistas que sofreram ataques, entre agressões físicas, discursos estigmatizantes e campanhas sistemáticas de desprestígio realizadas pelas redes sociais.

Ofensas misóginas, comentários pejorativos e ameaças de morte levaram mulheres a fechar temporariamente suas redes sociais só por exercer a profissão de jornalista. Muitos casos chegam à Abraji com um pedido de socorro acompanhado do medo de denunciar. Há sinais claros de subnotificação, sobretudo fora das grandes capitais e em cidades onde o banditismo e as esferas de poder estão imbricados.

O racismo se manifesta de forma clara. Basília Rodrigues, colunista política da CNN Brasil, já foi chamada de burra, gorda e “macacavilha”, mistura de macaca e Mulher Maravilha.

Carla Vilhena, apresentadora do mesmo canal pago, é uma das vítimas mais recentes. Um homem se empenhou em desmoralizá-la e agredi-la, depois que a jornalista comentou o depoimento, na CPI da Covid, do presidente da Pfizer na América Latina. As ofensas se intensificaram inclusive depois que Vilhena tornou públicos os ataques e defendeu o trabalho da imprensa durante a pandemia. O mesmo perfil disparou palavras de baixo calão contra Monalisa Perrone, também da CNN.

Daniela Lima, também da CNN, foi intimidada e chamada de “filha da p…” depois de comentar sobre a operação da Polícia Civil no Jacarezinho, considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro.

A rotina de humilhação imposta às mulheres jornalistas é diária. Desde dezembro de 2020, Mariliz Pereira Jorge, colunista da “Folha de S. Paulo”, sofre assédio.

“Os ataques têm sido articulados e estão cada vez mais organizados. Se escrevo um artigo ou posto algo nas redes sociais que desagrada, os bolsonaristas distribuem prints dos trechos em grupos, mandam para sites que apoiam o governo, parlamentares governistas e militância. A partir daí, toma conta das redes em perfis com milhares de seguidores. É possível perceber o movimento, porque os ataques vêm como uma avalanche e também cessam quase que ao mesmo tempo. Como o bolsonarismo se alimenta do ódio, todo dia tem um alvo diferente”, diz Mariliz à Abraji.

Fonte: Universa

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